24.04.10 (8o Encontro)

Dia 24 de abril fomos assistir Alice de Tim Burton. Foi o primeiro encontro que girou em torno de um filme (assisti-lo e comenta-lo) e como estávamos muito - mas muito mesmo - ansiosas, foi o máximo.

Assistir a um filme que foi baseado em um livro é sempre muito complicado! E com Alice não foi diferente: a maioria das pessoas (senão todos!?) que compareceram já haviam lido o livro e foram para o filme esperando suas passagens favoritas na telinha. Resumindo os relatos, houve quem saiu surpreso porque o filme porque superou as expectativas; mas também vieram as decepções - prá mim, por exemplo, Alice é uma garotinha que tá pensando na adolescência, e não uma moça que é pedida em casamento...
Mas aí está a graça do filme: vimos uma Alice (a Alice de Tim) com 19 anos, tendo que aceitar - ou não - um casamento. Enquanto um crítico da Folha de SP (e que agora não sei o seu nome) interpretou a queda de Alice na toca do coelho como uma fuga da vida adulta, eu entendi o oposto, porque afinal de contas ninguém pode aceitar tal pedido sem refletir sobre sua vida, seu passado ou seu futuro - daí a queda, a viagem para o País das Maravilhas - assim Alice podia pensar e então escolher!
E aí é que tudo se torna um pouco mais genial! No meu ponto de vista, o da Juliana - psicóloga e prestes a chegar aos 33, essa Alice teve que descobrir quem ela era e o que era ser Alice - melhor: "tornar-se Alice". Ela tomou para si a responsabilidade de escolher seus caminhos, tomar decisões e assumir os riscos - mostrou-se empreendedora, forte e corajosa. No final, nossa Alice tornou-se uma mulher pós-moderna, independente, mulher de negócios mesmo - e aí escolham: porque tanto podemos fazer uma crítica e questionar essa "Mulher Alice", ou podemos achar fantástico que ela tenha conseguido enfrentar tantas adversidades e conquistar um lugar ao sol! Sinceramente, gosto dessa versão; acho que nós mulheres queremos e lutamos por um reconhecimento - pelo tipo de reconhecimento que ela teve ao final da história (mas aí precisam assistir ao filme porque eu me prometi não revelar os detalhes da história!).  
Li o livro duas vezes na vida: na infância (e lá a história encabeçou a lista das piores histórias do mundo - porque sempre achei que, por se tratar de ficção, poderia não ser um sonho... odiei a revelação de que tudo aquilo foi um sonho! E nesse quesito o diretor me acalentou! Acho que fizemos as pazes enfim!!!) e em janeiro deste ano porque queria assistir ao filme depois de reler a história. Nessa segunda vez, encontrei uma menina Alice com problemas sérios de imagem corporal (ora ela era/sentia-se pequena demais, ora grande demais) e também dotada de uma onipotência incrível - por achar que poderia ficar pequena ou grande, quando quisesse e o quanto desejasse. Mas na vida real isso não é tão fácil assim, e muita gente sofre por sonhar/desejar com isso! Pior são as coisas que as pessoas acabam fazendo/passando por causa de tal sofrimento... É triste a sensação de que se é grande demais... Estou escrevendo isso e lembrando que quando fico muito triste, muito triste mesmo eu me sinto grande demais; se alguém tá pensando se eu tenho um transtorno alimentar - não, eu não tenho um transtorno alimentar! Mas em alguns momentos me sinto assim, tão grande que eu sinto como se não coubesse no mundo - na verdade é a tristeza que não cabe em mim, não cabe em lugar nenhum! Gente isso é horrível, e eu acho que muitos podem entender o que estou falando porque já devem ter sentido isso alguma vez. O problema não o sentir-se assim, mas saber o que fazer com essa sensação; Alice foi para o País das Maravilhas, muita gente faz loucuras e comigo aconteceu algo mágico: em 1998 eu pude ir à Itália (meu país das maravilhas) e quando entrei no Coliseu senti que ali eu cabia, que aquele lugar era capaz de comportar a minha tristeza e então eu chorei - chorei de felicidade! De lá prá cá se eu fico triste eu também me sinto grande demais para caber no mundo, me lembro do Coliseu - eu me imagino correndo por suas galerias, do prazer que é estar lá, e então me sinto melhor, me sinto menor e posso voltar ao mundo - ao mundo que me cabe!
 
Assim é Alice - alguém que precisa atravessar o mundo, cair até chegar ao País das Maravilhas, para então pensar, fazer escolhas (decidir sobre ir em frente ou não), assumir riscos, lutar com gigantes ou dragões para, finalmente, fazer o caminho de volta - munida de sonhos, desejos e segura sobre qual caminho seguir.
 
Juliana Medeiros
 

 

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